segunda-feira, 22 de novembro de 2010

05 NO CABO DA ENXADA, Do livro Do Miolo do Sertão. A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte

NO CABO DA ENXADA
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte
pag. 17 a 18

Pelo inverno de 1926, ao final da gravidez e durante o resguardo de Dosanjo, ainda se encontraram uns restos de paiol em casa, umas cuias de feijão e arroz para temperar com algum bicho do terreiro.
Mas, a partir de 1927, a família teve que procurar o caminho da roça para cuidar da própria sobrevivência.  Contando de início com a ajuda de Zé Matias para o trabalho mais pesado, minha mãe cedo tratou ela mesma de levar os filhos para essa árdua escola, que é ainda hoje a única que se oferece a muitos nordestinos. Primeiro, foram as imãs Alodias, Maria Virgem e Stela. Depois, foi Valdemar. Por fim chegou a minha vez.
Eu acabara de completar seis anos, mas ainda hoje, lembro onde ficava situada a nossa primeira roça. Também guardo bem vivas as lições desse meu primeiro “Livro do Mundo”, nas quais, devo confessar, não era dos mais interessados. Eu mais atrapalhava do que ajudava ao trabalhar dos maiores e, de fato, só não ficava em casa porque não tinha com quem. Inocente das coisas da roça, eu arrancava a lavoura, principalmente os pés de algodão, confundindo tudo com “mato”. Minha mãe me distribuía generosos cascudos pelos prejuízos causados.



segunda-feira, 1 de novembro de 2010

04 O OUTRO MATIAS, Do livro Do Miolo do Sertão. A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte

O OUTRO MATIAS
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte
pag. 16 a 27

A 26 de fevereiro de 1926, Dosanjo dava à luz o fruto de sua última gravidez. Era um menino moreno como o pai e de feições, entre todos os filhos as mais parecidas com Matias Duarte Passos.
O nome? Não havendo promessa a cumprir, dada a proximidade da perda do marido e vendo a coincidência dos traços fisionômicos, a sugestão e a escolha foram unânimes: o menino seria Matias. Minha mãe amamentou-o em seu luto de viúva; um vestido preto de mangas longas, um preto que só a custo, mais tarde, ela abrandaria no costume do trajes de bolinhas, o “fardamento” das viúvas em nosso velho sertão.
Matias Duarte Rolim, meu irmão caçula, meu companheiro de traquinagens no baixio do Melão, depois meu sócio e principal incentivador na carreira política, é hoje um marco em minha saúde. Em 1963, no pleno vigor dos seus 37 anos, nós o perdemos num trágico acidente automobilístico.