OS CAMINHOS DA VIDA
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte
pags. 58 a 60
Foi
por causa do comércio que deixei o Melão. Mas o mundo que eu conhecia até então
não girava além de um circuito que ia do Umari ao Baixio, ou Ipaumirim e
Cajazeiras.
Com a
aquisição da filial de Raimundo Dias fui levado a alargar os horizontes de meus
caminhos pelo mundo. Rapidamente, com as boas vendas, restava-nos apenas um
pé-de-loja, cujo estoque precisava ser renovado. Mas, ao contrário dos lojistas
locais, eu não me contentei em abastecer-me à porta de casa com os
caixeiros-viajantes.
- Vou
fazer compras em Campina Grande - disse ao meu sócio.
0 que
equivalia a dizer: "Vou para muito longe, a caminho do desconhecido".
Campina Grande ficava a léguas e léguas, só alcançável em precários caminhões
rompendo poeira e dando catabis por dias e noites de cansaço.
Fui
compensado no esforço. Comerciante de pequenas proporções numa vilazinha
mínima, eu ganhei conhecimento no meio de um centro comercial dos mais
destacados do Nordeste. Já na minha primeira viagem, verifiquei o quanto tinham
sido caros os preços que tínhamos pago a Raimundo Dias na compra da loja. Pior
que isso e algo inimaginável nos dias de hoje - deparei-me com uma baixa
assombrosa dos preços de tecidos, o que nos deixaria num beco sem saída, se não
tomássemos providências urgentes.
Comprei
o máximo que pude pelos baixos preços da praça de Campina Grande. Voltando ao
Umari, chamei o meu sócio e lhe fiz ver a situação que nos aguardava. De comum
acordo, combinamos convocar o coronel José Maria Ribeiro e Antônio Bigi para
uma sociedade na compra de algodão. Sem demora teríamos que vender tecido fiado
aos agricultores de melhor produção para recebermos depois os valores em
algodão. Ao mesmo tempo, por uma questão de lealdade, procurei o único lojista
de tecidos do vilarejo, nosso colega Domingos Ferreira - colega e não
concorrente, pois muito nos considerávamos - e lhe passei as informações sobre
a baixa de preços em Campina Grande. A resposta dele foi que não poderia vender
a sua mercadoria abaixo do custo. Estava certo ele e estava certo o nosso
plano. A onda baixista quase não atingiu a nossa praça e o resultado foi que,
mesmo ganhando fama de barateiro, chegamos ao fim do ano com um faturamento
igual aos dos quatro anos anteriores juntos.
Ganhamos
dinheiro e ganhamos experiência na exploração de outro ramo básico de negócios
em nossa terra: o algodão. Aos poucos, a SANBRA, de Sousa, na Paraíba, ia
tomando conhecimento deste pequeno abastecedor que, nos pátios da firma, fazia
tombar as suas primeiras arrobas do produto, e aí também ganhava nome e crédito
para receber adiantamentos em dinheiro para futuras carradas. Aumentávamos o
nosso capital de giro e expandíamos os negócios. No balanço de 1948, a lojinha
do Umari nos dava um lucro líquido de 46 contos, quantia apreciável à época.
Levando à frente nosso interesse em prosperar, incluímos na sociedade o irmão
de Renato, Majestoso Gondim, dono de uma mercearia bem sortida. Trouxemos a
mercearia para dentro da loja e a transformamos numa grande miscelânea.
Sem
procurarmos por isso, do dia para a noite quase toda a população do Umari se
fazia freguesa de nossa casa.
Para adquirir a recém lançada 3ª edição envie um e-mail para claudiomar.rolim@uol.com.br
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