sábado, 6 de abril de 2013

26 O CASAL PIMENTA


CASAL PIMENTA
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte
pags. 60 a 61


No Umari não tínhamos quase nenhum meio de diversão, nenhum cinema, nenhuma festa. Mas a criatividade dos jovens compensava a falta de opções para o lazer.
Anoto com saudade o nome de dois velhinhos, donos de uma lanchonete em que infalivelmente nos reuníamos toda noite, cada um de nós tratando de trazer para o encontro a estripulia mais original. O casal Pimenta nos recebia com um sorriso, certo de contar com a nossa companhia para as suas horas de solidão. E, por piores que fossem as nossas malinagens, nós pagávamos aos velhinhos, com toda exatidão, todos os estragos que fazíamos,
Sim, porque éramos campeões em tramas e tretas para encher a paciência do casal. Quantas vezes eu misturava sal com farinha e café, ou deixava o açucareiro no ponto de soltar a tampa e derramar-se sobre a xícara de algum freguês desavisado?
Mais surpreendentes eram os ardis que armávamos contra os próprios velhinhos. Como eles enxergavam com muita dificuldade e à noite não contávamos com luz elétrica, nós amarrávamos uma linha de costura na asa de uma xícara sobre o pires e, escondendo-a por debaixo da toalha, descendo pela perna da mesa, pedíamos a um dos velhinhos que a segurasse da calçada. Os outros, de dentro, <|u.melo viam o puxavante na xícara e esta se movendo "por m mesma", pulavam de lado, simulando o espanto:
O que é isso, seu Pimenta? A sua casa está mal-assombrada.
0 curioso nessa história é que os velhinhos alternavam as suas zangas, de modo a não perderam a assiduidade de seus baderneiros. Quando um se aborrecia, logo o outro tomava a defesa daqueles jovens que, mesmo cm meio a tanta bulha sem maiores conseqüências, lhes traziam algumas horas de entretenimento e uns trocados para o sustento dos dias monótonos.

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