O PROGRESSO, A BICICLETA
Do livro Do Miolo do Sertão
A História de Chico Rolim contada a Sebastião Moreira Duarte
pags. 48 a 49
Voltar a Ipaumirim? Fiquei indeciso. Guardava a promessa de Chico Olívio, “de qualquer jeito você não fica desempregado”. Mas o velho sabia onde eu estava em Cajazeiras e já era do seu conhecimento o que tinha se passado com o Senhor de Piano. Ele me encontraria na hora que quisesse. Voltar a Ipaumirim poderia significar-lhe uma cobrança e, portanto, uma indelicadeza. Também, seria pouco recomendável, para mim, ficar em Cajazeiras sem fazer nada.
- Quem quer ir ao Melão comigo?
Convidei, no meio da família, um grupo de umas dez pessoas que tinham se demorado mais na festa de fim de ano em Cajazeiras saí com elas, montado na mais nova invenção que nos chegava àqueles interiores: uma bicicleta, meio de transporte mais funcional e menos incômodo que o lombo do burro as economias que amealhei no emprego da mercearia me permitiram essa esnobação de rapaz novo.
- Mas quem diria, hein? Não é que esse filho de Dosanjo já tem uma tal de bilicicleta!
E, para demonstrar ainda mais a força dos novos temos, me meti estrada a fora com os companheiros de viagem. Como eles iam a pé, entendi de ajudá-los, alternando os passageiros que tornava comigo na garupa e no quadro da bicicleta. Apanhava dois e avançava meia légua. Voltava, apanhava mais dois e os deixava uma légua adiante; tornava a voltar e promovia os retardatários à linha de frente da maratona.
- Uma vantagem esse bicho tem, Chico: É LIMPO, NÃO dá trabalho, não descome capim, a cobra não morde.
Nessa brincadeira, quase sem nos darmos conta, chegamos, todos, meus companheiros muito alegres e eu muito cansado, mas feliz pelo regresso ao Melão, ponto de partida e retomada do meu destino.
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